A favor
Mozart Artmann
Graças ao uso de animais em
pesquisas, a ciência garantiu alguns de seus importantes avanços,
principalmente para a área da saúde. Alguns analgésicos, anestésicos cirúrgicos
e todos os antibióticos precisaram ser testados previamente em bichos. Até o
transplante de órgãos só se tornou possível a partir dessas pesquisas.
Em 2008 foi criada a Lei
Arouca (Lei Nacional n° 11.794/08), que regulamenta o Conselho Nacional de
Controle de Experimentação Animal (CONCEA). O conselho determina que cada
instituição que realize qualquer tipo de experiências com bichos precisa criar
uma comissão fiscalizadora. Na UEPG existe a Comissão de Etica no Uso de
Animais (CEUA). Caso a CEUA denuncie alguma experimentação que não segue as
normas, a universidade é multada e pode perder o direito de usar animais em
pesquisas.
As exigências são conhecidas
como os três erres: 1- Replacement (substituição): é obrigatório substituir os
animais por métodos alternativos de pesquisa sempre que for possível; 2-
Reduction (redução): utilizar apenas o número de animais necessários para a
pesquisa, procurando reduzi-los sempre que houver possibilidade e não altere os
resultados; 3- Refinement (requinte): minimizar a dor, estresse e sofrimento
dos bichos durante os procedimentos.
Evitar a dor ou estresse durante as pesquisas não
é uma preocupação apenas dos grupos ambientalistas, mas também dos cientistas,
pois caso um animal sofra durante um procedimento, os resultados não são tão
fiéis à realidade.
O curso de Medicina da UEPG utiliza suínos na
disciplina de técnicas operatórias, para que os estudantes adquiram habilidades
como cirurgiões e anestesistas. De acordo com Gilberto Ortolan, professor
responsável por essas aulas, não existem métodos alternativos para a realização
dos procedimentos. Em alguns casos é possível usar um simulador primeiro, mas
os futuros cirurgiões realmente precisam operar os animais em algum momento.
Os suínos recebem, em primeiro lugar, uma medicação
pré anestésica. Depois são submetidos à anestesia para que não sintam dor
durante as aulas. E, para evitar que sofram, são sacrificados com métodos
nacionais de eutanásia. No caso dos porcos, ou se induz uma parada cardíaca ou
se aprofunda a anestesia até a morte.
Contra
Jessica Bahls
O uso de animais em práticas
científicas e em salas de aula vem sendo questionado pela comunidade defensora
dos animais e sociedade. Em Ponta Grossa, o grupo Abolicionistas Veganos (AVEG)
fez várias manifestações para alertar e conscientizar a sociedade sobre essa
prática. Com uma posição contrária à experimentação animal, o grupo acredita
que as leis que instauram “comissões de ética” — lei federal N° 11.794, de
8/10/2008 e lei estadual N°14037 de 20/03/2003 - não são suficientes para
proteger e fiscalizar as experimentações. “Não existe nenhum artigo que diga
que a comissão deva fazer uma análise ética dos processos de pesquisa que
chegam”, diz o AVEG em resposta às questões apresentadas pela Nuntiare Ciência.
Em Ponta Grossa, o curso de
Psicologia da Faculdade Sant’Ana aboliu o uso de animais, eram cerca de 30
ratos sacrificados por ano. Atualmente o curso de Medicina da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG) utiliza 10 porcos por semana na prática de
vivissecção — ato de dissecar o animal vivo para realização de estudos. Segundo
o AVEG, na hora da criação de leis os interesses dos pesquisadores são levados
em conta e não o dos animais, “como se fôssemos fazer uma legislação para a
prática da pedofihia baseados nos interesses dos pedófilos”, completam.
Atualmente existem protótipos
sintéticos utilizados em algumas práticas, e alguns modelos computadorizados já
podem ser usados para evitar a vivissecção. O AVEG defende que o uso de
protótipos não compromete a formação do profissional da saúde, pelo contrário,
colabora com a formação ética deste mesmo profissional. “Ética, empatia,
cuidado e respeito são muito mais difíceis de ensinar do que qualquer
intervenção física”, afirmam. Outro ponto é a ineficácia de alguns testes, que
em animais foram um sucesso e nos humanos não, como o caso do Talidomida, um
medicamento usado contra insônia e ansiedade que causa má formação fetal e
perda de sensibilidade nas mãos e nos pés.
A comunidade científica não apoia a causa, e quem
apoia acaba ficando numa situação de neutralidade. Isso dificulta a criação de
uma legislação eficiente ou mesmo a abolição da prática. Os estudantes que
possuem posição contrária ao uso de animais podem se recusar a realizar tais
procedimentos dentro de sala de aula.
Fonte:
Nuntiare Ciência 01/2012 (p.31-32)
Revista-laboratório do Curso de Jornalismo da
Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, Paraná.